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Sobre a aparente contradição entre o “caminho espiritual” e esportes de combate

May 8 2019


Sobre a aparente contradição entre o “caminho espiritual” e esportes de combate
Miyamoto Musashi

Uma vez que o indivíduo obtém a compreensão de que sua individualidade, seu ego pessoal, é uma passageira ilusão e que na verdade nós somos apenas mais um processo do universo, mais um processo do todo, uma maneira do universo se experienciar de uma forma única e própria, e finita por definição (o que é algo absolutamente lindo), constrói-se aí uma aparente contradição entre tal compreensão e a prática de esportes de combate (no paradigma moderno), que são conhecidos pelo enaltecimento do ego e do orgulho. A ideia que possuímos de indivíduos que chegaram a tal conclusão da natureza não dual da existência é a imagem do pacífico mestre Zen, que se nega a engajar em qualquer tipo de combate físico. Não advogo tal padrão, embora também não faça apologia ao uso impróprio da violência.

Antes de tudo, se faz necessário mencionar que a agressividade e a violência são propriedades da manifestação, e possuem sua razão de existir. São processos que fazem parte do ciclo natural da vida, e só são considerados como coisas ruins do ponto de vista pessoal e individual, sempre em relação a um objetivo pessoal de um sujeito, que é a manutenção do processo biológico que chamamos de nossa vida. No entanto, isto não quer dizer que estou advogando e fazendo uma apologia ao emprego da violência e da agressão. Tais propriedades da existência devem ser freadas e canalizadas, pelo bem da sociedade humana.

Deixado claro este ponto, podemos prosseguir e acrescentar, que, tais atributos se fazem presentes, principalmente, no que refere-se à espécie humana, no macho. Particularmente, sou da opinião de que não devemos suprimir as manifestações naturais dos processos da realidade, mas sim compreendê-los e canaliza-los para que possam se expressar sem gerarem consequências indesejáveis. Visto que os atributos de agressividade e violência estão presentes (na maioria, ou em alguns) dos homens, e que tais manifestações possuem sua razão de existir (a própria manutenção da espécie depende de tais atributos para defesa e domínio do ambiente) não seria sábio suprimir tais energias, pois o observador atento sabe que ao tentarmos suprimir algo, este algo tende a se acumular e, postumamente, acaba por explodir, gerando consequências catastróficas. Portanto, advogo que tais manifestações devem ser canalizadas para ambientes controlados, e através dos esportes de contato, com muito respeito, responsabilidade e seriedade, possamos expressar tais manifestações de uma forma sadia.

Agora sobre o fato de tais esportes enaltecerem o ego de uma forma superficial e estúpida, eu concordo que a maioria dos praticantes de fato seguem tal padrão. No entanto, não deve ser a regra. Para o indivíduo que compreende que a manifestação de sua personalidade pessoal, seu ego, é apenas uma ilusão passageira, e que na verdade ele é apenas um processo que possibilita ao “Todo” (o universo, “deus”, etc…) se perceber, através de sua individuação, tal abordagem de enaltecimento de seu ego através da submissão de seu oponente pela sua força (e/ou técnica, inteligência e estratégia) não mais se aplica, e o que antes era um tolo exercício de auto-afirmação se torna uma dança cósmica, onde um lindo (e explosivo, agressivo) processo do universo ocorre de forma natural e pura, e repentinamente não mais se fazem presentes dois indivíduos se confrontando, mas sim o próprio universo se expressando de forma disruptiva e eufórica, algo tão belo como um vulcão em erupção, e tudo isso ocorrendo através de dois egos, em completa comunhão, no caminho do guerreiro.

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